Grupo da Quinta

sábado

"Revendo a Formação do Intérprete e do Arte-educador"

Por Rose Mary Martins

No momento em que uma reformulação curricular permeia o cenário das instituições federais de ensino superior no Brasil, na busca de uma universidade mais plural, crítica e independente, que promova o desenvolvimento científico, tecnológico, artístico e cultural da sociedade, são necessários projetos acadêmicos e ações que tenham como foco a elevação da qualidade do ensino e da pesquisa, investindo, de fato, na solução de problemas e buscando reavaliar, de forma contínua, o conjunto de conhecimentos e valores que norteiam o comportamento social.

Nesse sentido, a experiência do Grupo da Quinta busca colaborar com uma formação mais abrangente para o intérprete e arte-educador. Propondo-se a trabalhar com canto, música instrumental e teatro, o grupo toma corpo a partir de inquietações surgidas na disciplina Técnica Vocal do Curso de Licenciatura em Educação Artística – Artes Cêicas, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Tais Inquietações se transformaram em objeto de estudo de pós-graduação no Programa de Pós-graduação em Artes Cênica (PPGAC), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), cujo resultado se encontra publicado no livro A voz e a Palavra na Cena do Recife Hoje (Martins, 2004).

A experiência do Grupo da Quinta logo foi incorporada por professores das disciplinas Interpretação, Indumentária e Maquiagem, juntamente com um grupo de estudantes de Artes Cênicas e de Música, interessados na proposta.

Formado hoje por universitários, professores e profissionais atuantes nas áreas do teatro e da música, esta experiência tem resultado na criação de vários espetáculos, numa procura estética e educativa atravessada pela música, teatro e dança. Dentre as pesquisas desenvolvidas pelo grupo destaca-se a que repertoriou canções compostas para o teatro brasileiro, a partir do decênio de 1960, que resultou na montagem do espetáculo O Canto do Teatro Brasileiro 1, espécie de pequena cartografia do teatro brasileiro. O trabalho é uma performance que transita no território fronteiriço da música e do teatro, por meio de canções e fragmentos dos textos teatrais Calabar (1973), de Chico Buarque (1944) e Ruy Guerra (1931); Arena conta Zumbi (1965), de Gianfrancesco Guarnieri (1934), Augusto Boal (1931) e Edu Lobo (1943); Morte e vida severina (1966), de João Cabral de Melo Neto (1920-1999); Gota d’água (1975), de Chico Buarque e Paulo Pontes (1940-1976); Roda viva (1969), e Ópera do malandro (1978), ambas de Chico Buarque, nos quais o Brasil é desvelado em seus aspetos históricos, políticos e socioculturais.

A montagem contou com a dramaturgia e encenação dos professores João Denys Araújo Leite e Rose Mary Martins, e a direção musical sob a responsabilidade do regente, compositor, professor e bandolinista Marco César Oliveira. O Canto do Teatro Brasileiro 1 representou o Brasil na 8ª Edição da Mostra Internacional de Teatro, no período de 25 a 29 de novembro de 2005, em Portugal, numa organização conjunta do ENTREtanto Teatro e da Câmara Municipal de Valongo, com o apoio do Ministério da Cultura Portuguesa – Instituto das Artes.

Outro projeto que vem sendo desenvolvido trata do levantamento de músicas inéditas de pernambucanos, muitos deles desconhecidos como compositores, que resultará na gravação de um CD que incluirá obras de Alfredo Gama, Capiba, Nelson Ferreira, Valdemar de Oliveira, entre outros.

O mais recente produto artístico do grupo surgiu de uma investigação sobre a história do carnaval no Brasil, a partir do século XIX, sobretudo o carnaval do Recife, tomando como referência as obras Festas: máscaras do tempo (Araújo, 1996) e Carnaval do Recife (Silva, 2000), resultando no trabalho denominado Carnaval etc e Tal, que possui um repertório de sambas, marchinhas e frevos; o poema “Bacanal” (1918), do poeta Manuel Bandeira (1886-1968); figurino inspirado em fantasias, fotos e gravuras da primeira metade do século XX; projeções de imagens em movimento do Recife e seu carnaval entre as décadas de 1930 e 1970 e performances com pantomimas, em que predominam os jogos de provocação e galhofa, típicos do período momesco.

Nos laboratórios musicais e interpretativos do Grupo da Quinta, cada componente compartilha seus saberes teóricos e práticos com o grupo, visando uma reciclagem constante e a aquisição de novos conhecimentos por parte dos alunos que, progressivamente, se engajam nos experimentos. Enquanto os estudantes dos cursos de Música (bacharelado e licenciatura) despertam para suas potencialidades como intérpretes teatrais e como arte-educadores, os alunos de Artes Cênicas são estimulados a desenvolver habilidades musicais que poderão aplicar em trabalhos futuros, seja no papel de atores ou de arte-educadores.

Tais laboratórios mantêm um elo constante com os conteúdos desenvolvidos nas disciplinas, antes mencionadas, do curso de Educação Artística – Artes Cênicas, com disciplinas do curso de Música, bem como com os conteúdos desenvolvidos nas atividades de extensão da UFPE. A partir do momento em que os alunos se destacam, pelo desempenho na experiência acadêmica, podem migrar para o grupo, que gera oportunidades no mercado musical/teatral, na produção cultural e no ensino de artes propriamente dito, buscando suprir lacunas em sua formação.

Movido principalmente pela necessidade de se autogerir, o grupo investe na elaboração de projetos culturais eventualmente financiados pelas leis de incentivo à cultura, além de projetos de extensão universitária, com vistas tanto à capacitação profissional de artistas e arte-educadores como a formação de iniciantes em música e teatro.

As ações do Grupo da Quinta se inserem no subprojeto “Métodos, Técnicas e Procedimentos”, do Grupo de Pesquisa Vocalidade e Cena, em vigor na Universidade de Brasília (UnB), desde 2000, sob a coordenação da Professora Doutora Silvia Davini, e vem atuando como agente promotor de mudanças, sedimentando suas ações através de intercâmbios e parcerias com as diferentes linguagens artísticas dentro e fora do mundo acadêmico.

Rose Mary de Abreu Martins (CAC / UFPE)
Comunicação Oral
GT: Territórios e Fronteiras
Palavras chave: Música – Teatro-Educação – Vocalidade – Interpretação Teatral

Referências Bibliográficas

ARAÚJO, Rita de Cássia Barbosa de. Festas: máscaras do tempo: entrudo, mascarada e frevo no carnaval do Recife. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 1996.
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. São Paulo: Círculo do Livro, s/d.
MARTINS, Rose Mary de Abreu. A voz e a palavra na cena do Recife hoje. Recife: Editora Universitária da UFPE, 2004.
SILVA, Leonardo Dantas. Carnaval do Recife. Recife: Fundação de Cultura Cidade do Recife, 2000.

6 Comments:

  • At 8.5.06, Anonymous Anônimo said…

    Muito bom o artigo!

     
  • At 9.5.06, Blogger Maria Oliveira said…

    Mary, o blog melhora a cada dia!
    Imprimi o artigo:)
    Beijos

     
  • At 11.5.06, Blogger Clê said…

    Excelente o seu artigo. Parabéns ao Grupo da Quinta.

     
  • At 11.5.06, Blogger Lúcia said…

    Admiro o trabalho dos atores e no caso de vocês aliado a música. Um perfeito casamento.Parabéns!

     
  • At 24.5.06, Anonymous Anônimo said…

    Só tenho uma palavra pra dizer sobre esta iniciativa, este impulso na construção de uma nova cena: PARABENS.
    Me incluam no seu mailing list.
    bjs
    Sonia Bierbard
    bierbard@hotmail.com

     
  • At 6.3.07, Anonymous Anônimo said…

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