* Rose Mary MartinsTudo começa a partir de minha inquietação metodológica no ensino da voz dirigido ao trabalho do ator. Procuro, então, despertar nos alunos o interesse e a motivação, em sala de aula, buscando conscientizá-los sobre suas potencialidades musicais e a importância desta musicalidade no trabalho com o texto dramático.
O primeiro procedimento que adoto conduz ao estudo introdutório de canto para os não musicalizados e, de imediato, um sintoma é observado em alguns alunos: medo ou timidez em lidar com as próprias capacidades vocais, até então desconhecidas. No decorrer do processo, tal qual efeito terapêutico, surge a natural descontração.
E, também, o primeiro desafio: determinar limites à descontração e ao relaxamento, condição indispensável para um trabalho musical ou de qualquer outra natureza artística, concretizando um dos meus objetivos: o de provocar entusiasmo, disposição e prazer no estudo de voz para o teatro. Outro fato significativo ocorre quando parte do grupo solicita que as aulas se estendam além da carga horária oficial do curso. Aceito o desafio.
A idéia é aprofundar cada vez mais a prática do canto. Na oportunidade, integra-se ao grupo um regente profissional, numa parceria enriquecedora aos propósitos do trabalho acadêmico. O projeto desenvolve-se durante dois semestres, entre aulas, escolha das músicas, ensaios semanais, e trabalho em estúdio, resultando na gravação de um CD Demo com músicas do cancioneiro popular brasileiro.
Um novo trabalho surge, desta vez, extrapolando os limites da sala de aula. Trata-se da formação de um grupo musical independente, que reúne músicos, atores e cantores. Alguns trazem na bagagem vasta experiência em canto coral e outros, experiências em teatro. A principal busca se define por um trabalho que permita experimentar outras formas vocal, instrumental e performática, visando o espetáculo.
Esta experiência mantém elo com a proposta anterior, desenvolvida na UFPE, a partir do momento em que alunos, ao se destacarem pelo desempenho na experiência acadêmica, migram para este grupo, agora, com perspectivas no mercado musical. A estréia está prevista para junho de 2004, por ocasião do lançamento do livro A Voz e a Palavra na Cena do Recife Hoje, resultado da minha tese de mestrado no programa de pós-graduação da UFBA. O espetáculo incluirá, na estréia, poemas de Joaquim Cardozo, experimentos vocais e um repertório de música popular brasileira.
Ampliando o trabalho do grupo, outro projeto começa a ser desenhado, desta vez, um espetáculo de teatro acústico, composição musical de Oscar Edelstein (Universidad Nacional de Quilmes, Argentina) e direção cênica de João Denys (Universidade Federal de Pernambuco).
Rose Mary Martins, mestre em Teatro, professora de Técnica Vocal , coordenadora do Curso de Artes Cênicas da Universidade Federal de Pernambuco.